A influência da música na sexualização das crianças

"Reflexão sobre como músicas e coreografias hipersexualizadas moldam o comportamento infantil, explorando a influência neurobiológica da música e a responsabilidade dos pais na curadoria do que os filhos consomem."

ALERTA

Por Thamy Reis

8/14/20252 min read

Vamos combinar: a infância ganhou trilha sonora com batida chiclete, refrão insinuante e coreografia “para maiores” no feed. E a gente chama isso de “apenas diversão”. Só que música não é neutra. Ela entra pelo ouvido, mexe no corpo e estaciona na mente. Letras sexualizadas repetidas viram normalidade; coreografias hipersexualizadas, repetidas, viram performance. É a velha aprendizagem social: o que é premiado (views, risadas, aprovação) vira modelo. O corpo aprende o que a boca canta.

Cientificamente, a música é poderosa: sincroniza movimentos (entrainment), regula o sistema nervoso, libera dopamina no circuito de recompensa, pode reduzir cortisol e modular emoção. Por isso jingles vendem refrigerante… e refrões com duplo sentido vendem comportamento. Pulso rítmico acelera, voz sussurrada sugere, palavras ancoram imagens. Não é misticismo; é neurobiologia aplicada à cultura pop.

“Mas já li que notas musicais curam câncer.” Se fosse assim, bastava tocar dó maior na UTI. A verdade: não há evidência robusta de que “frequências” curem câncer. Há, sim, boa pesquisa mostrando que intervenções musicais ajudam em dor, ansiedade e qualidade de vida em pacientes oncológicos, como resumem a Cochrane em revisão sobre musicoterapia em câncer ( www.cochranelibrary.com), o NCCIH ( www.nccih.nih.gov) e a American Cancer Society ( www.cancer.org). Ou seja: música é terapêutica como coadjuvante, não “cura milagrosa”. Não sou profissional de saúde; isso é informação geral, não aconselhamento médico.

Agora, imagine o estrago cumulativo numa criança mergulhada, diariamente, em letras que glamourizam sexo, traição e álcool. A mensagem embalada em batida divertida dribla defesas críticas ainda imaturas, antecipa papéis, turva noção de consentimento e corpo, e gruda via repetição. Os algoritmos, atentos, servem mais do mesmo. “Ah, todo mundo ouve.” “É só uma música.” E assim terceirizamos o filtro para o autoplay, enquanto brincamos de surpresa com a precocidade.

Qual o problema com esta geração de pais? Talvez cansaço, culpa e a falsa paz de espírito do entretenimento silencioso. Mas curadoria dá trabalho — e é responsabilidade. Criança é criança. Não se trata de demonizar música, e sim de educar o ouvido: playlists adequadas, conversa franca sobre letras, exemplos coerentes e, por favor, limites. Vamos seguir dançando conforme a música do mercado ou ajustar o volume e, principalmente, o conteúdo?

grayscale photo of woman in white dress and black and white converse all star high top
grayscale photo of woman in white dress and black and white converse all star high top

É só minha opinião.

Minha opinião: música não é neutra. O que a criança canta e dança hoje vira roteiro do corpo amanhã. Quando a trilha exalta sexo, traição e álcool, a infância vira figurante do marketing. Pais cansados terceirizam o filtro ao algoritmo e chamam de entretenimento. Curadoria dá trabalho, mas é dever responsável: conversar, escolher letras, impor limites com afeto. Dá para dançar sem adultizar. Acordemos: criança é criança. Se doer, é porque cutuca. É só minha opinião.